Um dos sinais, segundo a psicoterapeuta Amelia Nascimento, é o  sofrimento. “Se a pessoa sente-se mal com o deboche dos outros,  angustia-se quando não age diferente, ou sente que sua mania está  interferindo nos seus relacionamentos, é hora de buscar ajuda de um  psiquiatra. E quanto antes, melhor”, diz ela.
  Foi o que fez a auxiliar administrativa Josiane Fickel, 31 anos, de  Florianópolis (SC). Sua ideia fixa era arrumar a cama, mesmo que se  levantasse à noite para ir à cozinha tomar um copo d’água. “Fui procurar  ajuda profissional porque me fazia sofrer e incomodava muito meu  ex-marido. Hoje consigo ficar dentro de casa com a cama desarrumada, o  que algum tempo atrás era impossível”, diz ela.
  A psicóloga Carmen Cerqueira Cesar chama a atenção para os hábitos que  começam a prejudicar a vida da pessoa ou dos que convivem com ela. “Pode  ser TOC – transtorno obsessivo-compulsivo – , distúrbio que interfere  negativamente no cotidiano. Um exemplo: passar regularmente três horas  dentro do banheiro, lavando e lavando e lavando”, explica.
  A boa notícia é que existe tratamento para o TOC. “É importante fazer  psicoterapia e usar medicação, mas as duas juntas. E, em muitos casos, a  pessoa terá de controlar o problema por toda a vida”, diz Carmen.
  Nada de mais
  Para a maioria, porém, os hábitos estranhos para os outros não afetam o  seu bem-estar. A psicóloga Marina Vasconcelos explica que a mania tem a  ver com adequação. “Se não atrapalha sua vida nem a dos outros, não há  problema”, afirma. É o caso, por exemplo, doator DanStulbach, que numa  entrevista recente ao programa “Marília Gabriela Entrevista”, no canal  GNT,declarou que só dorme com camiseta de manga longa, faça frio ou  calor. E que isso não o atrapalha.
  A jornalista Isabel (que prefere não se identificar), não come sushi em  número par. E nunca compra o primeiro livro, ou pacote de açúcar, ou  qualquer coisa que esteja à mostra numa prateleira. “Se tem um só, não  compro”. Problemas? Nenhum.
  Para a relações públicas Rosangela Andrade, 36 anos, o desagradável é  levantar-se da cama de supetão, mas se isso acontece, o mundo não acaba.  “Gosto de ficar deitada por pelo menos dez minutos de barriga para  cima. Se tenho de levantar às 5h, coloco o despertador para às 4h40.  Caso não faça assim, fico tensa o dia todo porque o dia não começou bem  como eu gostaria”, diz ela.
Roxo, lilás, roxo 
  A mania da analista de mídia Maria Veronica Pinheiro Martins, 44 anos, é  colorida. Há mais de 20 anos ela não vive sem roupas e acessórios roxos  ou em tons de lilás. “Se pudesse, usaria da cabeça aos pés, mas não  fica bom. Tudo que vou comprar procuro em roxo, é minha cor favorita  desde criança, acho alegre”, explica ela. Só que na sua infância as  tonalidades violeta e lavanda não eram nada populares. “Antigamente o  roxo era cor de velório e não se encontrava nada neste tom. Ainda bem  que isso mudou a partir da década de 1980”, comemora Veronica.
  Dentro de casa e no trabalho ela também dá um jeito de incrementar tudo  com roxo, das canetas ao potinho de plástico da cozinha, passando por  lençóis, escova de dente, enfeites. “Só não abuso mais por causa do meu  marido, que não gosta tanto assim”, diz ela.
  Veronica não vê problema algum na sua mania, mas reconhece que se fosse  proibida de usar a cor, ficaria bem chateada. “Uma vez uma amiga  sugeriu que eu fizesse uma experiência de ficar um dia sem roxo, mas não  topei. Sem o roxo ficaria ‘desbaratinada’, não gosto nem de pensar numa  coisa dessas”.
  Esquisitices
  Carmen explica que aquilo que para alguns é esquisitice, para outros  funciona como maneiras de prevenir situações desagradáveis ou temidas.  “A pessoa sente que precisa daquele ritual para fugir ou reduzir um  desconforto gerado pela obsessão.”
  Josiane viveu algo do gênero. Numa viagem a Paris, o ex-marido não  deixou que ela arrumasse a cama do hotel no dia de voltar ao Brasil.  “Resultado: ao chegar aqui passamos mais de três horas no aeroporto para  conseguir tirar o carro do estacionamento. Se eu tivesse arrumado a  cama, isso não teria acontecido”, acredita ela.
  Pensamento maníaco
  A psicóloga Marina diz que, além de comportamental, as manias podem ser  mentais, como contar, repetir palavras ou frases e brigar. “Existem  pessoas que têm mania de ter razão, uma compulsão pelo embate. Só o  ritual da discussão aplaca a mania”, diz ela.
  Para a pessoa obsessiva, segundo Carmen, tudo tem de estar rigidamente  dentro de um programa pré-estabelecido, senão ela entra numa angústia  intolerável. “Ela tenta ter o controle sobre tudo e considera  intolerável viver a vida como ela é, cheia de imprevistos. Seus  principais sentimentos são medo e ansiedade”, afirma.
  Em se tratando de qualquer mania, o importante é se perguntar: “Será  que faço isso de forma exagerada? E e se eu não fizer, o que vai  acontecer? Vou ficar angustiado?” Se perceber que está perdendo o  controle da situação, é hora de procurar ajuda. “Esta é uma maneira de  olhar para si e se observar, uma boa maneira de perceber estes e outros  distúrbios. Só que para fazer isso é preciso estar atento e relaxado.  Uma pessoa com um nível de obsessão alto não consegue ver a realidade.  Nestes casos, será necessária a ajuda de terceiros”, diz Amelia.

 
 
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