
Médicos dizem que sabonetes antibacterianos eliminam a proteção natural da pele e podem causar alergias; fabricantes garantem a segurança 
  A cada dia surgem novos itens de higiene que prometem acabar com os  germes. Os sabonetes antibacterianos estão se tornando parte da rotina  de higiene das pessoas, mas eles são realmente necessários? Para os  médicos, pessoas saudáveis não precisam dessa proteção extra e, em  alguns aspectos, o uso excessivo desses produtos pode até ser  prejudicial. Já os fabricantes garantem sua segurança e eficácia.
  O mestre e doutor em dermatologia pela Universidade de São Paulo Luís  Fernando Tovo explica que sabonetes com agentes bactericidas são  indicados apenas em algumas circunstâncias. “Não recomendo o uso  rotineiro e frequente desses sabonetes para pacientes saudáveis”,  esclarece Tovo.
  Para o médico, os antibacterianos só devem ser usados em locais em que  haja risco maior de contaminação, como hospitais, ou em casos de  pacientes que sofrem de infecções de pele. Em casa, para uma pessoa  saudável, água e sabão são o suficiente.
  O infectologista Fernando Bellissimo Rodrigues, presidente da Comissão  de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital das Clínicas de Ribeirão  Preto, concorda: “o uso de sabonetes antibacterianos tem indicações  médicas específicas, como o combate a patologias. Para pessoas  saudáveis, não é indicado, pois não há comprovação de benefícios e sim  indícios de malefícios”.
  Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), “a  utilização de produtos antissépticos (o mesmo que antibacterianos)é  recomendada sempre que identificado risco de contaminação, como:  utilização de sanitários; manipulação de alimentos (principalmente em  restaurantes); indústrias de fabricação de medicamentos; farmácias;  hospitais (áreas não críticas); consultórios, inclusive odontológicos;  regiões com ausência de saneamento básico e tratamento de lixo; etc”. 
  Na contramão dos médicos, a agência diz que indica o uso de  antissépticos para pessoas saudáveis. Questionada se confronta os testes  das empresas com outros estudos científicos, a Anvisa alegou: “em se  tratando de produtos de higiene pessoal, a Resolução RDC 211/05  determina que a empresa detentora dos produtos se responsabilize pela  segurança e eficácia (dos mesmos). Estes dados devem ser enviados no  momento do registro para que sejam submetidos à analise de um técnico da  Anvisa”.
  Proteção natural ameaçada
  Existem certamente bactérias que causam doenças e precisam ser  combatidas. Contudo, a professora titular do departamento de  dermatologia infecciosa e parasitária da Universidade Federal de São  Paulo (Unifesp) Valeria Petri endossa: “o sabonete comum é, por si só,  antisséptico (antibacteriano). Não é preciso acrescentar nenhum  princípio ativo para matar bactérias”.
  A médica explica que a própria secreção da pele, o fluido que nem  sempre percebemos, é antibacteriano. Chama-se manto lipídico. “São  milhões de anos de evolução do homem. Não se pode duvidar da competência  das nossas defesas naturais. Se não fossem competentes, nem estaríamos  mais vivos. Se a gente não acredita e interfere, corre riscos”, adverte  Petri.
  Segundo Tovo, os sabonetes antibacterianos matam tanto as bactérias  ruins como as consideradas boas, causando um desequilíbrio da  colonização bacteriana.
  Isso porque no nosso organismo há dois tipos de bactérias: as  patogênicas, que causam doenças, e as não-patogênicas ou neutras. As  últimas não fazem qualquer mal e até ajudam no equilíbrio das funções do  nosso corpo. Agem, por exemplo, na síntese de vitaminas e no  funcionamento do intestino. Na pele, protegem o organismo contra a  invasão de germes nocivos, causadores de infecções e outras doenças.
  “Para isso, as bactérias normais competem com as bactérias ruins  (patogênicas) e com os fungos. Se forem eliminadas, perde-se a proteção  natural da pele e as bactérias ruins podem conseguir entrar com mais  facilidade”, explica Tovo. A defesa do organismo, portanto, fica  enfraquecida.
  Valeria Petri concorda com o médico. “As bactérias da flora da pele  trabalham em favor da proteção cutânea natural. Retirá-las  sistematicamente torna a pele indefesa”, esclarece.
  Alergias
  Além de retirar a proteção natural da pele, os sabonetes  antibacterianos podem deixar o usuário mais vulnerável a alergias,  segundo a dermatologista. “Quanto menos ativos (substâncias que agem no  organismo) forem colocados em um tratamento, melhor”, diz. Produtos com  muitos componentes têm risco maior de causar reações.
Entre os princípios ativos geralmente empregados em sabonetes contra germes estão o triclocarbono e o chloroxilenol. O polêmico triclosan, que já foi associado em estudos a alergias, problemas ao sistema imunológico e hormonais e prejuízos ao meio ambiente, não está mais presente nas fórmulas dos sabonetes antibacterianos mais conhecidos.
Entre os princípios ativos geralmente empregados em sabonetes contra germes estão o triclocarbono e o chloroxilenol. O polêmico triclosan, que já foi associado em estudos a alergias, problemas ao sistema imunológico e hormonais e prejuízos ao meio ambiente, não está mais presente nas fórmulas dos sabonetes antibacterianos mais conhecidos.
  E o álcool?
Para casos em que uma proteção extra é necessária, o álcool em gel é a opção mais indicada, segundo médicos. Rodrigues garante que o produto age apenas superficialmente na pele, portanto não afeta a flora de bactérias.
“O álcool em gel pode ser usado com segurança para descontaminação das mãos em situações em que a limpeza com água e sabão não está disponível. É o caso de muitas lanchonetes e restaurantes que não dispõem de pias acessíveis ao público, fora dos sanitários”, complementa o médico.
Petri recomenda, entretanto, que o álcool em gel seja usado com moderação. Caso contrário, o produto pode desidratar a pele e ressecá-la, dependendo da tolerância individual. Se a pele está ressecada, podem surgir minifissuras, por onde bactérias boas e ruis podem entrar. E isso pode provocar doenças, como a dermatite de contato, comum entre médicos e cirurgiões que precisam fazer uso constante do produto para desinfetar as mãos.
Para casos em que uma proteção extra é necessária, o álcool em gel é a opção mais indicada, segundo médicos. Rodrigues garante que o produto age apenas superficialmente na pele, portanto não afeta a flora de bactérias.
“O álcool em gel pode ser usado com segurança para descontaminação das mãos em situações em que a limpeza com água e sabão não está disponível. É o caso de muitas lanchonetes e restaurantes que não dispõem de pias acessíveis ao público, fora dos sanitários”, complementa o médico.
Petri recomenda, entretanto, que o álcool em gel seja usado com moderação. Caso contrário, o produto pode desidratar a pele e ressecá-la, dependendo da tolerância individual. Se a pele está ressecada, podem surgir minifissuras, por onde bactérias boas e ruis podem entrar. E isso pode provocar doenças, como a dermatite de contato, comum entre médicos e cirurgiões que precisam fazer uso constante do produto para desinfetar as mãos.

Nenhum comentário:
Postar um comentário